Paris foi uma vez a minha cidade, eu tinha quinze anos, uma melhor amiga e o coração a trabalhar correctamente. E é muito diferente chegar-se a Paris com um coração a funcionar. A pessoa assim apaixona-se logo pelas francesas e quer ser a Jean Seaberg e compra muitas boinas e empanturra-se de crepes com Nutella e diz allons y. Em casos mais graves a pessoa escreve poesia numa sentimental mood e passeia de mãos dadas pelo Père Lachaise. Agora que o coração foi à revisão, havemos de ir lá as duas, acender uma velinha ao Jim Morrison. Não achavas giro? Queres?
Não vamos sozinhos para o lugar onde o amor está. Têm que nos puxar, empurrar, gritar, chorar. Desviar-nos dos caminhos fáceis, dos dias tristes em que não é preciso querer nada porque já nos tínhamos esquecido como é bom querer tudo. Eu quero voltar a Budapeste só para entender melhor o livro do Chico Buarque de Hollanda, ir fazer aulas de yoga para ficar com os braços lindos para si, dizer grumpy muitas vezes, comprar o primeiro livro da nossa biblioteca na venda de livros usados do MEC, acordar cedo, ter sorte, get lucky, ver imensos azuis e verdes, talk flirty to me, listas de 75 músicas que me levem contigo até à zona de ventos convergentes por cima do Equador numa noite de lua cheia.
«we must enter into that willing suspension of disbelief required in the reading of any poem»