Absolut Vodka
A primeira coisa que gostei em ti foi a maneira que tens de me ouvir, uma coisa de importância, tenho deficit de atenção por causa da Joana Lídia, a miúda mais feia e mais boa a matemática e com a bata mais ranhosa da minha escola, que era sempre a última a ser escolhida para as equipas do Mata e que, por isso, um dia me pôs a chorar porque me "atirou coisas à cara".
Fazes uma expressão séria, que eu adoro, a ouvir cada sílaba minha, mesmo quando eu bebo e falo sobre os disparates e as alegrias das pessoas felizes que às vezes sabem confundir sexo com amor, ou não querem entender nada de sociologia ou engenharia financeira em Fevereiro, que é o mês mais curto e triste do ano.
E sonho com usar óculos de leitura com uma armação à Woody Allen e sonho ter uma cinturinha fina, e andar toda nua, à tua frente, só com umas meias de baskett daquelas da American Appareil, altas, com duas riscas em cima, uma amarela e outra azul escura. E ter pequenos ápices amorosos e jantar contigo à luz de velas e contarmos as nossas histórias sobre raparigas talibans, raparigas da velha guarda, raparigas alucinógenas, raparigas um bocadinho escritoras, raparigas investigadoras de coisas sérias, raparigas que gostem de discutir a relação e só pensem na praia. E na praia estendermo-nos num sofá Chesterfield insuflável e encarnado a falar de como teres lido Dante Alighieri no teu colégio me faz querer-te tanto e tão bem.